Quintais virtuosos

DO-RE-village-chief-allocated-field-for-women-cooperative.jpgO chefe da aldeia colocou à disposição da cooperativa feminina um terreno para cultivarem legumes e frutos, essenciais para uma melhor alimentação. © ONPHDB/B. Garba

No Níger, um quintal comunitário, explorado por uma cooperativa feminina, permite diversificar e melhorar o regime alimentar das populações. É também uma possibilidade de gerar rendimentos suplementares. Um círculo virtuoso.

Em Guilladjé, pequena aldeia do sudoeste nigeriano da região de Dosso, a alimentação diária de numerosas famílias registou uma melhoria qualitativa nos últimos anos graças a um quintal comunitário. Com uma superfície de cerca de 5 ha, este quintal é explorado pela cooperativa feminina da aldeia, com o apoio de uma ONG local especializada em hidráulica e segurança alimentar, a Organização Nigerina para a Promoção da Hidráulica e do Desenvolvimento de Base (ONPHDB). A ideia de criar este quintal em benefício das mulheres aldeãs teve origem nas crises alimentares cíclicas com que se encontra confrontado o Níger e que afetam as populações rurais, cuja alimentação depende exclusivamente das culturas pluviais, frisa Boureïma Garba da ONPHDB.

DO-RE-Women-generate-extra-income-surplus.jpgGraças aos excedentes de produção vendidos nos mercados locais, as mulheres da cooperativa obtêm rendimentos. © ONPHDB/B. Garba

Lutar e diversificar

O quintal comunitário tem um duplo objetivo: diversificar o modo de produção alimentar dos habitantes de Guilladjé, a fim de reduzir a sua dependência das culturas pluviais, que são por definição aleatórias, e, ao mesmo tempo, lutar contra a desnutrição que afeta gravemente as crianças num país onde o milho-miúdo constitui a principal alimentação de base. A adesão dos aldeões à iniciativa foi unânime.

«Para concretizar o projeto, a ONG contactou o chefe da aldeia que pôs um campo gratuitamente à disposição da cooperativa feminina», explica Daouda Abdou, Vice-Presidente da Câmara Municipal do concelho rural de Guilladjé. Resolvida a questão da terra, a ONPHDB cercou o local com uma rede, construiu um poço moderno para facilitar o acesso à água e forneceu material agrícola e sementes, criando assim as condições para aumentar a produção. Melhor ainda, pôs à disposição da cooperativa um técnico agrícola para prestar assistência e melhorar a produtividade.
O quintal comunitário é explorado por cerca de trinta mulheres, que produzem aí diversas espécies de legumes (couve, tomate, cenoura, pepino, quiabo, pimento, feijão- -verde), de tubérculos (batata, batata-doce, mandioca), de frutos (melão, melancia), moringa, etc., sob controlo do agente assistente.

Oumou Seydou, presidente da cooperativa, explora uma parcela de terra de cerca de 300 m2 no local, ajudada pelas três filhas. «Desde que começámos a explorar este quintal, os hábitos alimentares mudaram radicalmente na aldeia. Antes, as duas refeições diárias, nas famílias que conseguiam ainda fazê-lo, eram invariavelmente uma boroa de milho-miúdo, na maioria das vezes sem leite, para o almoço, e massa com molho à base de folhas de baobá e de soumbala para o jantar», sublinha Oumou Seydou. «Hoje, os legumes, tubérculos e frutos que produzimos permitem-nos diversificar a nossa alimentação e também ganhar algum dinheiro com a venda de uma parte da produção», conclui.

«A boroa de milho-miúdo deixou de ser o único alimento invariavelmente servido ao longo do dia. Podemos também preparar guisados de batata, de batata-doce ou de mandioca, porque dispomos dos condimentos necessários. Temos também couves, feijão- -verde e folhas de moringa que servem para preparar iguarias muito nutritivas», acrescenta Mariama Sambo, sem esquecer os frutos ricos em calorias e vitaminas complementares.

A boa gestão das poupanças

O excesso de produção é vendido nos mercados locais. Os rendimentos angariados permitiram a algumas dessas mulheres lançar-se na pequena criação de animais e na avicultura. «No início comprei duas cabras, uma galinha e ovos de galinha-do-mato com as economias realizadas no segundo ano de exploração da minha parcela. Atualmente, tenho dez cabras, que me dão o leite, e galinhas-do-mato que produzem ovos durante a estação das chuvas», descreve Oumou, satisfeita com as suas realizações. Em caso de declínio das vendas, os produtos são conservados graças às técnicas de secagem aprendidas pelas exploradoras.

O sucesso da iniciativa na luta contra a desnutrição favoreceu a sua multiplicação em numerosas regiões do país por ONG nacionais e internacionais, como a Care, a Action Contre la Faim, a Save The Children, etc. Alguns destes quintais estão equipados com o sistema de irrigação gota a gota criado em 2010 por investigadores do Instituto Internacional de Investigação sobre as Culturas das Zonas Tropicais Semiáridas (ICRISAT). Este sistema fomentou uma verdadeira dinâmica no desenvolvimento de quintais ditos «africanos» em vários países do Sahel. «Perto de 7 000 pequenas explorações, situadas numa centena de comunidades do Benim, Burquina Faso, Níger e Senegal, foram dotadas do sistema inovador de irrigação para produzir melhor, dispor de uma alimentação equilibrada e ganhar dinheiro», segundo o ICRISAT.

Ousseini Issa



 
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